Luísa logo que acorda pega o celular, vê as mensagens de Marcela, quer marcar um encontro, Luísa não responde. Vê as ligações de Helena e lê as várias mensagens, as primeiras dizendo que está com saudades e as outras demonstram preocupação pela sua falta de retorno. A culpa lhe cai como uma bomba. Resolve mandar uma mensagem.
“bom dia linda”
Depois de quase meia hora, vem a resposta.
“nossa! tá viva???”
“desculpa por não responder ontem.”
“a festa devia estar ótima”
Luísa percebe a fúria na mensagem.
“que horas posso te pegar?”
A resposta demora, Luísa fica apreensiva.
“eu vou até sua casa.”
“Helena eu te busco, sei que não gosta de dirigir”
“EU VOU ATÉ SUA CASA OK???”
“nossa moça brava, td bem, que horas?”
“pq a preocupação com horário? Se for te atrapalhar nem vou”
“ei linda, calma aí! Só pra eu me arrumar!”
“vou sair do hospital às 14h, vou pra casa me trocar, o Fabio vai sair lá pelas três, devo chegar aí umas 15:30.”
“huum não vejo a hora!!!”
Helena simplesmente não responde. Luísa pensa:
“Caramba que mulher brava e ciumenta!”
Faz algumas coisas e quando é meio dia, sua campainha toca. Ela abre sem ver o olho mágico, deve ser o porteiro. É Marcela parada na porta. Está com uma mini saia jeans e um blusa de alça branca.
- Já que não responde as mensagens, resolvi vir aqui!
- Como subiu sem que me interfornassem?
- Ah usei meu charme. – e dá uma piscada.
- Entra. – diz encostando a porta.
- Na verdade vim me desculpar por sexta. Já pedi desculpas pra Serena e pra Laís, fui babaca. Mas se serve como justificativa, estava muito bêbada!
- Tudo bem, eu também. Acontece.
Marcela tenta se aproximar e Luísa desvia.
- O que foi Lu?
- Marcela foi ótimo o que aconteceu conosco, mas não quero mais repetir ok?
Marcela ainda insiste, joga seu charme e usa todos os argumentos possíveis, mas Luísa está irredutível. Quando Luísa se vira para desligar o som, Marcela a agarra e a beija. Nesse exato momento, Helena entre no apartamento e vê a cena.
Luísa ouve o barulho e empurra Marcela, que não entende nada.
- Nossa Lu pra que isso? Sempre gostou que te agarrasse assim. – quando se vira dá de cara com Helena que está pálida.
- Helena você chegou cedo. – Luísa vai até ela.
- Pelo visto fiz muito mal. – permanece pálida e parada na soleira da porta.
- Olha acho que eu estou a mais aqui. Tchau. – Marcela passa por Helena que se afasta dando passagem.
Luísa tranca a porta e segura o rosto de Helena com as duas mãos. Ela chora, Luísa a abraça. Ficam assim em silêncio.
- Helena senta aqui. – a leva até o sofá. Vai até a cozinha e pega um copo com água.
Ela bebe de um só gole.
- Eu sempre soube que isso ia acontecer. – a voz triste de Helena machuca Luísa.
- Helena, de fato foi uma cena horrível, mas juro que eu não esperava que ela viesse aqui.
- Quem é ela? – o olhar de Helena é duro.
Luísa conta como conheceu Marcela e o que aconteceu entre elas, inclusive na festa de sexta. Helena ouve tudo calada, coloca os braços apoiados nas pernas e segura o rosto com as duas mãos.
- Lu eu não tenho o menor direito de te cobrar nada, me desculpa pela cena. Acho melhor ir embora. – faz menção de se levantar, mas Luísa a detém.
- Não! Olha, eu preciso muito falar com você.
Helena a olha com medo de que ela termine tudo. Luísa senta de lado e a puxa para que fiquem de frente uma para a outra.
- Eu tentei, ah tentei viu!!! Fui até um bar, louca para expurgar você de mim, ninguém me chamou a atenção. Aí surgiu a Marcela e transamos, foi bom não vou mentir.
- É algum tipo de tortura comigo Lu? – Helena já não se preocupa em segurar seu choro.
- Não!! Só quero que me ouça ok?
- Fala.
- Quando acabou, fiquei aliviada por ela ir embora e me veio uma sensação horrível de vazio. Toda vez eu pensava em tentar de novo, só vinha você na minha cabeça, tomando conta de todos meus pensamentos e sentimentos. Acredita que senti que estava te traindo??? Isso NUNCA aconteceu comigo depois do meu casamento. E tem algo muito sério Helena, que por dias refleti, indaguei, duvidei, sabe me sufocando até agora?
- O quê? – a voz de Helena sai trêmula, agora é o término fatal.
- Eu amo você. Eu quero quebrar nosso acordo, pois não quero e muito menos, não sinto a menor vontade de estar com outra mulher. Sei que tem o período da recuperação da Mari, que não é fácil terminar um casamento como o seu, que envolve filha, dinheiro e família. Mas se você me ama, e também acredita que podemos ter uma relação linda, apesar de tudo, eu quero entrar de cabeça!
Elas se abraçam e se beijam longa e apaixonadamente. Sem palavras, se despem e se amam no sofá. Mãos, bocas, pernas, corpos que falam a mesma língua, sem precisarem de palavras. Sensações e emoções que ambas sabem que só sentem se estão juntas. Não há mais nada que precisem a não ser estrem ali, juntas, se transbordando.
Se amam por horas, por toda a tarde, e sabem que será por toda a eternidade. Deitadas com os corpos abraçados, uma olhando para a outra, se contemplando.
- Lu sabe que será difícil e demorado?
- Tenho consciência disso.
- Ainda assim vai trocar sua vida de solteira por uma mini guerra? – e Helena dá seu sorriso mais doce, que encanta Luísa.
- Vou.
- Vai ter paciência de me esperar para ser inteiramente só sua?
- Sim.
- Preciso te dizer uma coisinha...
- Diga Helena, diga tudo agora ou cale-se para sempre! – ambas sorriem.
- Tirando a Mari, amo você como nunca amei alguém!
- Eu sei e eu sinto seu amor!
O beijo cala as vozes, a certeza que elas têm de que só pode ser o amor que as ligam é tão grande, que o medo e a dúvida viram as costas e se despedem delas.
Adormecem sabendo que precisam desse refúgio para tudo ainda virá, e irão enfrentar! Juntas!
FIM