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“Se cuida”.

Frase solta de alguém que não sabe o que falar. Quando ouço, sorrio e balanço a cabeça, num sim frouxo.

Soa de forma estranha essa frase, ao menos nesse momento tão surreal. Tudo o que mais quero é que alguém me olhe e diga: posso cuidar de você? Ou, melhor ainda: Eu vou cuidar de você! Assim, no modo imperativo, decidido mesmo a fazer isso.

Alguém que me puxe de encontro a seu peito, me abrace e afague meus cabelos, e diga baixinho que tudo ficará bem. Me fazer sentir a leveza de ser cuidada, protegida contra os monstros maus que querem machucar meu pequeno e infinito mundo.

Não vou reclamar, não quero ser aquela que reclama de tudo e que não consegue enxergar as pequenas belezas à sua volta. Muitas coisas ruins já passaram, sobrevivi a todas e ainda estou inteira. Talvez um pouco machucada, algumas feridas ainda em processo de regeneração, mas estou bem. Nada se partiu e nem despedaçou. Nesse momento tão adulto que vivo, apesar dos mais de 40, sinto que agora de fato cresci, sinto que mudei muito, e estou mudando nesse percurso todo e sei que ainda irei mudar muito. Acho que é o tal amadurecimento emocional. Às vezes sinto que algo ou está anestesiado ou endurecido aqui dentro, e não me pergunte o que exatamente, pois não saberia explicar. Muitas coisas que me enfureciam, hoje já não me alteram o humor. É como se tudo mudasse de perspectiva, como se meu olhar para as coisas, pessoas e situações, tivesse mudado de ângulo, como que reinterpretando tudo de forma totalmente nova.

Sei que é algo bom, mais amadurecido e objetivo, porém como tudo na vida tem seu lado negativo, sinto que também a paixão me deixou e foi caçar outro rumo. Da mesma forma que as coisas e pessoas não me enfurecem, também não me causam tremiliques. Ando me sentindo morna. Talvez anestesiada mesmo.

Talvez isso faça parte de todo o processo, para se renovar a fênix precisa antes virar cinzas, e só depois renasce esplendorosamente bela.

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